piscultura
  • ANATOMIA DOS PEIXES/DIGESTÃO

    A observação da anatomia dos peixes permite obter informações básicas de seus hábitos alimentares, e um exame atento do aparelho digestivo oferece boa estimativa do alimento preferido ou, ao mesmo, pode servir para orientar estudos sobre sua alimentação.
    A descrição anatômica adquire sua maior importância quando é relacionada ao alimento consumido, porque assim compreendemos melhor o funcionamento de cada órgão do trato digestivo.
    O aparelho digestivo dos peixes é constituído de: boca, cavidade oro-branquial, esôfago, estômago, intestino e glândulas anexas. Trato digestivo, refere-se aos órgãos compreendidos entre a boca e o intestino (reto) e, tubo digestivo, refere-se aos órgãos do esôfago até o reto.
  • BOCA

    Corresponde à abertura anterior da cavidade oro-branquial. Sua posição, formato e tamanho estão intimamente relacionados aos hábitos alimentares e, em especial, à forma de apreensão do alimento.
  • CAVIDADE ORO- BRANQUIAL

    É um aparelho típico dos peixes, com duas funções principais que dão origem a seu nome: a retenção e manipulação de alimento e a passagem da água usada na respiração branquial. Também é chamada de cavidade bucal por analogia à dos vertebrados terrestres.
    Nas paredes da cavidade, podemos encontrar todas ou a maior parte das terminações nervosas da gustação e glândulas secretoras de muco. No epitélio das guelras, células especiais eliminam sais nos peixes marinhos. Entre os órgãos relacionados à alimentação, encontramos os rastros e diversos tipos de dentes. A espátula faríngea em Teleostei tem a finalidade de espremer água dos alimentos.
    1. Dentes
    Nos peixes, podemos encontrar dentes nas maxilas (maxilar inferior, maxilar superior e premaxilar), no vomer, nos palatinos, na língua, na faringe e nos lábios. Como a maioria dos peixes (carnívoros) ingere seu alimento inteiro, a função mais comum dos dentes das maxilas é a de segurar o alimento, auxiliados pelos dentes do vomer, dos palatinos e da língua. Mas as maxilas também podem apresentar dentes especializados para triturar, raspar e cortar. Placas faringeanas com dentes ou simplesmente dentes faringeanos têm a função de triturar alimentos. Em Mugilidae, encontramos dentes nos lábios, utilizados para raspar algas fixadas em substratos duros.
    2. Rastros
    São formações cartilaginosas ou ósseas geralmente alongadas, enfileiradas na parte anterior dos arcos branquiais (às vezes duas fileiras por arco) com a finalidade de reter, por filtragem, alimentos pequenos que poderiam escapar entre os arcos branquiais junto com a água usada na respiração.
    A observação das características dos rastros pode oferecer uma boa idéia sobre a dieta alimentar do peixe, porque esses órgãos apresentam adaptações diretamente relacionadas ao tamanho do alimento preferencial. Mudanças ontogenéticas, espaciais e temporais no tamanho dos alimento, geralmente, ocasionam mudanças nas características dos rastros.
    Espécies estritamente planctívoras, que consomem presas do mesmo tamanho ao longo da vida, mantêm o mesmo espaço entre os rastros, acrescentando rastros conforme cresce a exemplar. Nas espécies planctívoras, os rastros estão presentes nos quatro arcos branquiais, sendo geralmente mais numerosos no primeiro arco, mas também podem ser mais numerosos no segundo, como em Sardinella brasiliensis.
    Nas espécies carnívoras, os rastros geralmente só estão presentes no primeiro arco branquial. Espécies que conservam o mesmo número de rastros até a fase adulta, na realidade, estão mudando o tamanho absoluto de suas preferenciais devido ao espaçamento cada vez maior entre eles.
  • ESÔFAGO

    É um órgão tubular que serve de passagem entre a cavidade oro-branquial e o estômago, geralmente é curto, mas pode ser longo dependendo do comprimento do corpo do peixe e da posição do estômago. O duto pneumático da vesícula gasosa geralmente abre no esôfago das espécies fisóstomas.
  • CARNÍVOROS

    São peixes que selecionam alimento animal vivo, incluindo zooplâncton. Quando o alimento é constituído principalmente por peixe é chamado de piscívoro ou ectiófago; quando os crustáceos, carcinófago, quando por moluscos, malacófago, quando por cefalópodos, teutófago, quando por insetos, insetívoro etc.
    Nos rios e pequenos lagos, os insetos têm uma importante participação na dieta do peixe, os quais, geralmente, estão presentes o ano inteiro, embora estejam mais disponíveis na época das cheias. Os insetos adultos podem flutuar ou afundar, ao caírem na água ou ser carregados pela chuva, podendo também ser capturados por peixes especializados quando pousam perto da superfície da água. Entre as formas larvais, as de vida aquática são mais usadas como alimento, mas também são aproveitadas larvas terrestres.
    O canibalismo tem importantes implicações na autoecologia das espécies, porque geralmente funciona como uma forma de autocontrole populacional, acentuando-se quando as condições de alimentação são inadequadas ou por conveniência de adultos, como ocorre em algumas espécies de Hoplias, Cichla, Salminus, etc. Atribui aos desenhos e ao colorido de Cichla ocellaris, que aparecem em exemplares a partir de determinado tamanho, a função de alertar os exemplares maiores da própria espécies para evitar o canibalismo.
  • ESTÔMAGO

    Na maioria dos peixes é uma dilatação do tubo digestivo onde os alimentos são mantidos o tempo necessário para realizar a digestão ácida. Sua mucosa interna forma sulcos longitudinais e sinuosos que desaparecem quando o estômago se expande com a entrada dos alimentos.
    Os estômagos podem ser retos, ou ter forma de “U” ou “Y”. O tamanho do estômago e sua dilatação máxima estão limitados pelo espaço da cavidade celomática.
    Em Mugilidae, o estômago é dividido em duas porções, uma anterior (cardíaca) de paredes finas e outra posterior (pilórica) de paredes grossas, que tem por função triturar o alimento. A mesma característica observa-se em Prochilodus platensis, e em Prochilodus scrofa e Curimata insculpta, mostrando que tal característica anatômica é comum em espécies iliófagas. Mas também ocorre no planctívoro Sardinella brasiliensis.
    Em espécies fisóstomas, o duto pneumático pode também ter sua entrada pelo estômago. Quando o duto abre no esôfago, é fácil entender como funciona, considerando que o esôfago só serve de passagem para o alimento, mas quando a abertura ocorre no estômago, é de se esperar algum processo fisiológico que permita ao estômago funcionar como passagem de ar à vesícula gasosa e como órgão digestivo. Os Siluriformes Hoplosternum, Ancistrus e Plecostomus, que engolem ar e absorvem oxigênio através das paredes do tubo digestivo possivelmente também apresentam padrões especiais de evacuação.
    Algumas espécies de peixes não tem estômago, apresentando todo o tubo digestivo com a aparência do instestino embora possa ocorrer um pseudo-estômago, chamado bulbo intestinal, o qual pode ou não ter diferenciação histológica em relação ao verdadeiro intestino, sendo reconhecido visualmente somente quando tem conteúdo. A ausência de estômago é característica em espécies que ingerem alimentos com altos teores de substâncias alcalinas , indigeríveis ou de fácil digestão (areia, lodo, celulose, coral), porque seriam difíceis de serem transportados através de um estômago, além de inviabilizarem a digestão ácida. Mas também ocorre em peixe-voador que aparentemente não apresenta dieta especializada.
    A ausência de estômago pode ocorrer em diversas categorias taxonômicas e, inclusive, em uma mesma categoria podemos encontrar espécies com e sem estômagos. Entre as taxas que apresentaram espécies de peixes sem estômagos temos: Holocephali, Cyprinidae, Catostomidae, Cobitidae, Locaricariidae, Neoceratodus, Gobiesocidae, Cyprinodontidae, Poecilidae, Atheriniformes, Syngnathidae, Labridae, Scaridae, Blennidae, Callionymidae, Gobiidae, Acanthuridae, Molidae.
  • INTESTINO

    É um órgão geralmente tubular por onde transita o alimento e no qual ocorre a digestão alcalina e a absorção dos nutrientes. São três os tipos mais freqüentes: em forma de verdadeiro espiral (em Heptranquias perlo), em forma de anéis superpostos com um pequeno orifício de comunicação no centro (em Alopias superciliosus) e em forma de lâmina enrolada (em Prionace glauca). Nos demais Osteichthyes, o intestino é geralmente tubular e com essa forma o aumento ou a diminuição da superfície de absorção é controlada pelo maior ou menor comprimento do intestino. Espécies de Prochilodus apresentam pregas na mucosa com a provável função de ampliar a superfície de absorção.
    No final do intestino, diferencia-se o reto, reconhecido por ter uma grossa camada muscular e maior número de células em copa do que o intestino. Em Gambusia affinis, uma válvula separa o intestino do reto
  • CECOS INTESTINAIS

    São formações tubulares com fundo cego e com abertura geralmente situada na região pilórica do intestino (cecos pilóricos), embora alguns exemplares de algumas espécies apresentem a abertura localizada entre a porção pilórica e o reto. A estrutura histológica é semelhante à do intestino e supõe-se que têm por função aumentar a área de absorção do intestino e talvez possa servir também para armazenar alimento. Peixes sem estômago não têm cecos.
    Considerando que no estômago ocorre digestão ácida, que no intestino a digestão é alcalina, que os cecos estão situados principalmente no início do intestino e que os peixes sem estômago não tem cecos, é possível que, ao menos, uma das funções dos cecos seja a de aumentar o pH do bolo alimentar para toná-lo alcalino e assim deixá-lo pronto para ser rapidamente aproveitado desde a porção inicial do intestino.
  • GLÂNDULAS ANEXAS

    Os peixes não possuem glândulas salivares, mas em compensação têm glândulas de muco na cavidade oro-branquial. O fígado, como em todos os vertebrados, tem como função principal preparar as substâncias nutritivas, provenientes da absorção intestinal, para serem aproveitadas pelo organismo e, entre os peixes, também é importante a função de estocar gordura (útil para diminuir o peso específico do peixe, mas determina que sua estrutura fique pouco consistente). A maioria das espécies possui vesícula biliar.
    O pâncreas é geralmente difuso, sendo compactado em poucas espécies, como em: Elasmobranchii, Dipneusti e Siluriformes. Quando difuso, devido à ausência de duto pancreático, as secreções são depositadas no fígado e encaminhadas ao intestino junto com a bile.